12/11/2013

A CHEGADA DOS NEGROS AO BRASIL


A inserção do africano na sociedade brasileira


Quem é o negro? Se fizermos esta pergunta a um tribal do interior do Zaire, obteremos uma intrigante resposta: "Negro é aquele que tem cor de gente". Para este mesmo indivíduo, o homem branco é o que carrega a cor da morte. Metido no coração da África por esquecidas gerações, tem ele uma concepção toda particular do Universo. Nas coisas mais simples, lá está a marca de sua definição. A zebra lhe é um cavalo preto listado de branco. O europeu diria que é um cavalo branco listado de preto. Para se entender a sua cosmovisão é indispensável fazer-se como um deles.

Conta-se que certo missionário, ao compartilhar de uma refeição na tribo Kaka, nos Camarões, ganhou de imediato a simpatia dos nativos. Depois de saborear aquelas lagartas tostadas com pirão de mandioca, ouviu, prazenteiro, este comentário: "O homem branco kaka está comendo lagartas: ele realmente tem um coração negro".

Embora possuam uma visão de mundo toda particular, a cultura negra revela não poucos traços que nos remetem às origens da humanidade. As muitas estórias contadas pelos patriarcas africanos lembram, apesar das distorções, o Gênesis hebreu. Afinal, como diria Jorge Bertolazzo Stella, não há mitologia que não tenha um fundo de verdade. Ouviremos assim, sentados ao redor de uma fogueira, falar de um grande dilúvio, de uma torre insana e de uma inesperada dispersão da família humana. Ainda que a verdade seja apenas um fundo, não podemos ignorar-lhe a silhueta. É até possível ver um Adão com o cabelo pixaim naqueles causos arrastados pela noite adentro.

Os negros filhos de Adão

Deixemos por ora o movediço terreno das lendas, e comecemos a pisar o chão sempre firme da Bíblia Sagrada. A primeira verdade que devemos absorver, no estudo das várias culturas e etnias, é que todos os seres humanos provêm de um mesmo tronco genético. Embora diversos quanto à cor da pele, não haveremos de desdenhar nossa origem comum. No discurso de Paulo no Areópago, diante dos filósofos epicureus e estóicos, encontramos esta doutrina plenamente corroborada: "E (Deus) de um só (Adão) fez toda a geração dos homens" (At 17.26).

O historiador italiano Césare Cantu, defendendo a unidade da família humana, escreve: "Detendo nos nos argumentos físicos, sabemos que as espécies muito diferentes não se ligam entre si; as afins produzem híbridos infecundos; as raças da mesma espécie, por mais diversas que sejam, geram mestiços que podem reproduzir-se. Ora, todas as raças de homens se cruzam fecundamente; logo, pertencem a uma única espécie."

No mês de abril de 1981, cientistas reunidos pela UNESCO, em Atenas, divulgaram um documento, no qual chancelam a doutrina monogenésica do gênero humano. Entre outras coisas, diz o referido documento:

"As descobertas antropológicas mais recentes confirmam a unidade da espécie humana. A dispersão geográfica da espécie humana facilitou sua diferenciação racial, sem, no entanto, afetar sua unidade biológica fundamental. Foi a partir de características físicas aparentes que se fizeram tentativas de classificação da espécie humana com a preocupação de dar conteúdo objetivo ao conceito de raça. Mas esse conceito só pode se basear em características transmissíveis, ou seja, não em particularidades físicas aparentes, mas nos fatores genéticos que as determinam."

Brancos ou negros, os seres humanos todos somos originários de Adão e Eva. As diferenças exteriores denotam apenas fatores climáticos e geográficos, não uma indesejável poligenia. Afirmar que o homem procede de diversos troncos genéticos é escancarar as portas às mais absurdas, cruéis e sanguinárias teorias. Não foi isto o que aconteceu na Alemanha de Hitler? Bastou um único livro para levar os alemães a crerem numa supremacia racial que jamais existiu. Sob o eco de "Mein Kamf" mais de seis milhões de judeus pereceram nos campos de concentração.

Não há povos superiores, nem inferiores. O que há são povos bem governados e mal governados; povos que se despertam livres e povos que se recolhem acorrentados. Em seus Estudos sobre o Negro, A. da Silva Mello deixa-nos este lembrete: "O que é preciso ser posto em evidência é que o negro não é inferior racialmente, e sim pelas condições que tem atravessado na vida, falto de educação, pobre, sempre relegado às tarefas mais baixas". No Brasil, aliás, não são apenas os negros que colhem os frutos semeados pelos colonizadores e regados pelos que lhes seguem as pisadas no caminho do poder. Gerações de todas as cores vêm amargando tais frutos.

A maldição de Canaã

Edward Gibbon declarou, certa vez, que a história emudece acerca de qualquer civilização negra de grande porte. Não sei com que base o admirável escritor britânico fez tal afirmação. Talvez não quisesse lembrar-se dos formidáveis feitos etíopes ou das conquistas líbias e marroquinas. Nesse ponto, somos obrigados a perguntar: “Onde estavam os nórdicos e saxões, quando as civilizações morenas assombravam o mundo com suas proezas e avanços no campo da cultura e da técnica?”.

Que os europeus jamais se esqueçam: enquanto os romanos viviam como bárbaros, a Etiópia já era admirada pela sua civilização. Haja vista a vinda do eunuco da rainha de Candace a Jerusalém para adorar no Santo Templo. Recuando um pouco mais, encontramos outro etíope que deixara sua marca na história de Israel: Ebed-Meleque. Na condição de ministro da corte davídica, ajudou a salvar a Jeremias do calabouço. Levemos em conta ter se dado este evento em, aproximadamente, 588 a.C. Nesta época, os ascendentes de Edward Gibbon andavam perdidos, quem sabe, nos fiordes, ou tentando atravessar o Canal da Mancha. Ou, ainda, abrigados nalguma caverna às margens do Danúbio.

Não bastassem as civilizações acima citadas, temos igualmente o sempre enaltecido Egito. Ao contrário do que mostra Hollywood, a civilização do Nilo não é caucasiana, nem pode ser vista com aqueles olhos verdes dos atores americanos que aloiram os faraós e embranquecem-lhes os servos. O Egito, atrás da magia das câmeras, é uma nação africana em perfeita harmonia com as demais famílias daquele imenso continente. Mais morena, menos morena, não importa. É africana.

Vê-se logo que, entre os negros, podemos descortinar várias civilizações de grande porte. Do Saara ao Cabo da Boa Esperança e de Angola a Moçambique, a África é tão importante à história quanto a Europa e a Ásia. Como, porém, explicar o preconceito em relação à gente negra? Creio que essa ideia brotou de uma interpretação distorcida do capítulo nove de Gênesis. Nessa passagem, encontramos Noé embriagado, desnudo e a ressonar pesadamente em sua tenda. Diante daquele tão deprimente espetáculo, Ham (que muitas versões preferem transliterar como Cão) diverte-se com a ignomínia do pai. Não satisfeito com a irreverência, chama os irmãos para que vejam a cena. Sem e Jafet, ao contrário do irmão caçula, tomando um manto, entram de costas na tenda e cobrem o patriarca.

Sob a ótica meramente humana, este incidente poderia até passar despercebido. Numa sociedade pagã, onde o respeito aos mais velhos não é mais observado, como se queixava Sócrates aos seus amigos, geraria no máximo, uma censura pública. Transportando-nos, porém, ao terreno profético, defrontamo-nos com outra realidade. O patriarca não viu apenas o ato de um indivíduo; e, sim, o de toda uma família que, na história do povo hebreu, teria destacado papel. Mesmo neste instante de ira, entra a misericórdia de Deus em ação e impede que a maldição se espalhe por todos os clãs hamitas.

Os mitos que precisam ser destruídos

Perguntaram-me, certa feita, se o sinal que o Senhor colocara em Caim era a cor negra. Achei a pergunta impertinente; num certo sentido, preconceituosa. Quem a fez, desconhecia um fato etnográfico muito importante. Repassando os primeiros capítulos de Gênesis, verificamos que, quando do dilúvio, toda a descendência de Caim foi destruída. Já não há, pois, nenhum caimita negro, ou branco, perambulando por aí. Apenas a linhagem de Set foi preservada das grandes águas. O sinal posto em Caim nada tinha a ver com a cor de sua pele. Tratava se simplesmente de um ideograma; uma espécie de escrita que lhe evocava o crime.

Concernente à maldição lançada sobre Canaã, filho de Ham, há o mesmo tipo de especulação. Tanto neste caso, quanto no outro, encontramos nenhuma referência à coloração da epiderme de quem quer que seja. A maldição dizia respeito tão-somente ao desalojamento dos cananeus da terra que o Senhor juraria dar aos patriarcas hebreus.

É mister tomar muito cuidado com as interpretações bíblicas extravagantes. Delas, brotam os preconceitos, nascem os rancores, originam-se matanças e até genocídios. Haja vista o que acontecia na África do Sul. O apartheid, não satisfeito com suas feições legais, buscava respaldar à sua existência na mesma Bíblia. Roubando os textos que mostram os judeus como um povo sacerdotal e profético, os descendentes dos boers postavam-se como se fossem a nação eleita do Testamento Velho. Nessa tola arrogância, segregavam os negros, maltratavam-nos e expulsavam-nos de suas possessões, alegando a premente necessidade de um espaço vital para o desenvolvimento da comunidade branca.

Esquecem-se de que nas Sagradas Escrituras não há guarida para o racismo. Deus trata a todos de igual modo, sem quaisquer favoritismos. Para Ele não há acepção de pessoas. Mas, voltemos ao assunto, e vejamos a chegada do negro ao nosso país.

Os negros começam a chegar ao Brasil

Os negros começaram a chegar ao Brasil por volta de 1538. Neste ano, Jorge Lopes Bixorda, conhecido como o "velho traficante", deixa em nosso território o primeiro carregamento de escravos. Outros navios aqui aportariam, trazendo novas levas de filhos da África. Esta infâmia durará aproximadamente quatrocentos anos. Nestes quatro séculos, entraram em nosso país, segundo algumas estimativas, cerca de 18 milhões de negros. Para se ter uma idéia de quão grande era este contingente, basta lembrar que, em 1818, 60% da nossa população eram constituídos de escravos. Ressalva, porém, o sociólogo Arthur Ramos em sua obra As Culturas Negras no Novo Mundo, que estes números devem ter sido muito mais expressivos.

Infelizmente, é-nos muito difícil, hoje, levantar a real situação do negro no Brasil durante a escravidão, em conseqüência de um movimento que visou arrancar de nossa história "a mancha negra". Muitos documentos preciosíssimos foram queimados; estatísticas, destruídas; contratos de compra e venda de negros, simplesmente incinerados, numa tentativa de se escrever uma nova história do país que se fez pela escravatura.

Nossos historiadores têm muito a aprender com os hebreus. Ao escreverem suas crônicas, não tentaram eles esconder nenhum fato. Se falaram das grandezas de Moisés, não deixaram de mencionar-lhe os fracassos e indecisões. O que dizer da história de Davi? Embora o maior herói de Israel, todos sabemos, através dos cronistas de sua corte, ter ele cometido um homicídio e um adultério. Entre os hebreus, havia homens corajosos que não faziam questão de lustrar a história da nação, pois tinham um sério compromisso com a história.

No que tange à escravidão, a historiografia hebréia é mais que imparcial. Registra que, no tempo dos patriarcas, juízes e reis, a escravidão fazia parte do elenco dos costumes da sociedade israelita. Aliás, encontramos até leis regularizando o servilismo e tornando-o menos desumano. Mais tarde, os mesmos escritores mostram qual foi a conseqüência da escravidão. A mesma sociedade que admitia a escravidão foi levada cativa.

A proveniência dos negros brasileiros

Naqueles navios negreiros, cantados por Castro Alves, vinham as mais diferentes e estranhas tribos. Misturadas nos porões, nem sempre podiam comunicar suas dores, pois desconheciam os idiomas umas das outras. O único idioma comunicável era o do infortúnio daquele cativeiro. Lá, amontoavam-se até tribos adversárias. No solo quente da terra-mãe, julgavam se algumas superiores e civilizadas; desprezavam aquelas que ainda não tinham dominado técnicas e lavores. Mas, agora, naqueles porões, eram todas vistas como bárbaras pelo traficante lusitano. Quando chegarem a este lado do mundo, ver-se-ão unidas à senzala e ao vil trabalho.

Os negros trazidos para o Brasil são classificados em três grupos culturais: a) Sudaneses: procedentes da Nigéria, do Daomé e da Costa do Ouro, conhecidos também como iorubas, gêges e fanti-ashantis; b) Guineanos-sudaneses islamizados, representados pelos fulas, mandingas e haussás; c) Bantos: compreendidos em dois grandes grupos: angola-congoleses e moçambiques.

Sudaneses

Os sudaneses destacam-se principalmente pela elevada estatura. Sempre esbeltos e graciosos, são ainda facilmente reconhecidos na cidade do Salvador. Eram considerados, às vezes, exóticos; um espetáculo à parte. Deles escreve Gilberto Freyre: "Vêem-se negros tão altos que parecem estar andando de pernas de pau; tão compridos dentro de seus camisões de menino dormir que de longe parecem almas de outro mundo".

O negro destes negros não é um negro forte como o dos bantos. É um negro azeitonado, que nos faz lembrar alguma incursão semita por aquelas áreas esquecidas da África.

À Bahia, chegaram muitos sudaneses. Dentre estes, os nagôs eram os mais requisitados em virtude de sua robustez e índole. Sua inteligência também era admirável. Com uma docilidade que não se encontrava nos outros negros, assimilavam rapidamente as tarefas que lhes eram especificadas. Da lavoura aos mais complicados afazeres, tudo aprendiam. Eis porque a sua cotação era tão alta no mercado.

Guineanos-sudaneses islamizados

Com a expansão do Islamismo, os seguidores do "profeta" deixaram a Arábia e meteram-se no desconhecido e exótico das terras ainda não rastreadas. Foram às Índias, bordejaram a China e romperam pela antiga Babilônia. Chegaram a África, onde, nalgumas tribos, encontraram um terreno fértil para semear a doutrina de Maomé. Nos mistérios deste solo, foram encontrados os guineanos sudaneses, que se fizeram rapidamente muçulmanos. Circuncidando, passaram estes a observar as leis dietéticas e as festas sagradas. Subjugaram-se ao Corão; voltavam se agora à Meca e, para lá, tencionavam um dia peregrinar.

Entre os grupos negros maometanos, há que se ressaltar os haussás. Radicados principalmente na Bahia, eram motivados por exaltado espírito de liberdade e não hesitavam em promover revoltas e sedições. Entre eles, não eram raros os que sabiam falar e escrever o árabe. Ao contrário dos outros negros, possuíam uma cultura evoluída e, em certo sentido, superior à portuguesa. Escreve o sociólogo Arthur Ramos que, "em todos os grupos negros, da Bahia, onde existiam haussás, a revolta existia, pode-se dizer em estado latente". Eles ainda promoviam guerras santas no intuito de converter não somente os brancos como também as outras famílias negras.

Para abafar estes anseios de liberdade, o governo baiano colocou as milícias nas ruas, e faltou muito pouco para que os haussás não fossem completamente exterminados. Hoje, quem visita a Bahia ainda pode ver a remanescência da cultura sudanesa pelas ruas de Salvador, nas vestes daquelas baianas que andam a vender acarajés. Ou na estatura dos negros que, mesmo sem o querer, lembram ao homem branco que, apesar de tudo, os sudaneses conseguiram sobreviver àquele trágico ano de 1813.

Bantos

Embora mais atrasados que os sudaneses, os bantos tiveram uma influência muito maior em nossa cultura do que aqueles. Aliás, antes dos estudos efetuados por Nina Rodrigues, acreditava-se serem todos os nossos negros de origem bântica. Hoje, porém, graças ao sociólogo bahiano, sabemos que a contribuição sudanesa guineana não convém ser desprezada.

Os bantos espalharam se rapidamente pelo Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro, Minas e São Paulo. Eram conhecidos pelas mais diversas alcunhas: congos, angolas, caçanjes, angicos.

Unidos por uma religião comum, criam na existência de um ser responsável por toda a criação. Alguns diziam que era Nzambi, outros, Marimo, Reza ou Molungo. Em Angola, recebia a alcunha de Zambi. Tendo em vista esta tosca, porém reveladora teologia, vemo nos obrigados a concordar com o argumento ontológico de Anselmo, segundo o qual pode-se descortinar a presença do Eterno em todas as almas humanas, mesmo nas mais rústicas e dominadas pelas mais vis superstições. Num outro artigo, voltaremos a falar na concepção teológica dos bantos. Religiosamente, foi o grupo que mais influenciou o povo brasileiro.

Simplesmente negros

Remoeram-se os séculos, e as diversas correntes culturais trazidas da África começaram a confundir-se de tal forma, que hoje é muito difícil distingui-las. Via de regra, os negros brasileiros são vistos como que pertencendo todos às nações bânticas. Entretanto, as pesquisas concluídas por Nina Rodrigues e Arthur Ramos demonstraram terem nossos negros as mais diversas procedências culturais. Para efeito de estudos, classificamo-los nos três grandes segmentos: sudanês, malês e bantos. Para as outras etnias, são simplesmente negros. Todavia, cada banzo tem a sua cor e cultura; cada saudade, um pedaço de terra distinto.

Como os negros foram recebidos em nossa pátria

Vê-se o homem português como que destituído de quaisquer preconceitos. Ao contrário dos outros colonizadores, unia se afoita e abertamente às mulheres nativas e, mais tarde, às negras. Por estas, demonstrava acentuada predileção. Muitos foram os brasileiros ilustres frutos desses consórcios. Haja vista o que nos revela José do Patrício. Renomado orador e abolicionista, não escondia o fato de ser filho de um padre português e de uma escrava.

Aloísio de Azevedo foi um dos primeiros escritores a tratar de tão polêmica temática. Em seu romance intitulado O Mulato, denuncia o quanto o racismo estava enraizado em nossa sociedade. Apesar dos disfarces culturais, era impossível encobrir a nódoa. Naquele afrontado mestiço, desnuda-se toda a família africana trazida compulsoriamente para cá. A escravidão é a mais forte evidência da doutrina racial lusitana, cujas raízes acham-se nos mesmos fundamentos do reino. Bastam algumas páginas de Alexandre Herculano, para se certificar do fato. Afinal, eles também eram filhos dos deuses. Não foi o que cantou o exaltado Camões nos Lusíadas?

Longe de provar a inexistência de racismo entre os colonizadores lusos, a união inter-racial denunciava um problema que sempre os preocupara: a baixa densidade demográfrica de Portugal. Para se ter uma idéia da gravidade do problema, lembremo nos de que, em 1750, o país tinha apenas dois milhões de habitantes. Embora possuísse colônias em todos os continentes, o rei sabia não ter condições de manter a ocupação de tão vastos domínios. Para agravar a situação, os corsários francos e bretães já andavam por estas bandas causando consideráveis sangrias à já combalida economia portuguesa. O que fazer? Aos seus homens, o soberano português recomenda as uniões com as mulheres índias e africanas. Destes arranjos, vai surgindo uma mestiçagem que se espraia em todos os rincões do Brasil. A miscigenação acentua-se; o racismo não desaparece: disfarça-se.

O estabelecimento da Santa Inquisição em Portugal mostra claramente o quanto o racismo estava no sangue lusitano. Certa vez, li um livro acerca dos cristãos novos, e fiquei assustado com a retórica daquele autor que, exaltando os portugueses, não poupava o verbo ao depreciar os filhos de Sião. Era uma retórica semelhante a usada por Hitler em seu Mein Kampf. Aliás, toda a nação guindada a império é subjugada por uma doutrina racial que termina por destruí-la. Foi assim com os egípcios, assírios e babilônios. Se rastrearmos as crônicas de Susã, Atenas e Roma veremos que o mesmo sintoma foi detectado entre os persas, gregos e romanos. Não esteve ausente nos antigos etíopes, nem nos orgulhosos somális. O racismo não é uma doença nascida com os brancos: é uma peste surgida com o próprio homem. Toda vez que uma civilização sobrepõe-se a outra, o primeiro sintoma a aparecer é o racismo.

O racismo tem as mais variadas cores. Quando os japoneses impunham sua cultura à Coréia, era amarelo. Quando os somális arrogavam se como senhores do chifre da África, negro. E, quando os portugueses, julgando-se senhores do mundo, arrancavam o africano à sua terra para escravizá lo no Novo Mundo, ganhava aqui todas as cores. A Bíblia, porém, afirma que somos todos irmãos, porque todos proviemos de Adão e Eva. Logo, obrigamo-nos a amar-nos uns aos outros.

EXTRAÍDO: CPAD NEWS

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