11/01/2014

A HISTÓRIA DE UMA FESTA


O palacete brilha. A agitação é imensa.
Lâmpadas recordando opalas e rubis são postas no jardim para serem acesas, orquídeas multiplicam-se nas mesas, é o natalício em luz da pequena Beatriz.

Ela, o centro da festa, a bela pequenina, naquele casarão feito em linhas austeras, completava oito lindas primaveras.
Para todos aqueles que a cercavam, era sempre gentil, generosa e suave, um encanto de menina.

O dia terminava, ante o Sol ainda quente, entretanto, Beatriz, muito embora gripada, sentia-se feliz na idéia de abraçar a muita gente... A única filha do casal Garcia parecia voar num sonho de alegria.

Quase que de improviso, ela avista Marcela, armada de sacola, a menina descalça e maltrapilha, que, às vezes, passa ali pedindo esmola para ajudar ao pai paralítico e só; Beatriz sente dó da pequena vestida em trapos remendados e abraçando-a, anuncia:

– Vem comigo, Marcela, hoje é meu dia, quero que comas do meu bolo.
Mas ao apresentá-la à Senhora Garcia, que parece manter-se de vigia, nos adornos da sala, a filhinha acrescenta:

– Mamãe, esta é Marcela, que sempre vai ao nosso educandário tem o pai doente e espera o nosso auxílio.
Peço à senhora dar a ela um pedaço do bolo de meu aniversário.

A menina, porém, escuta em desconsolo, a mãezinha dizer, séria e zangada:
– Por onde foi você buscar esta garota esfarrapada?
Nossa festa é de amigos, nossa casa não tem ligação com mendigos.

E fitando Marcela, a dama continua:
– Saia daqui agora, seu lugar é na rua.
A menina em andrajos sai correndo, mas Beatriz parada, sob choque tremendo chora desconsolada.

– Filha, por que você conserva essa mania - diz com severidade a mãe - de dar tanta atenção a crianças imundas? Não me traga mais aqui pequenas vagabundas.
Pouco tempo depois, a festa começava.

Ante o bolo enfeitado e oito velas pequenas, vozes erguiam felicitações, irmanavam-se os votos e as canções e num painel de rosas e açucenas, uma orquestra vibrava.
Terminada, porém, a festa linda, a família Garcia enfrenta o inesperado; nove horas da noite... Cedo ainda... A pequena Beatriz havia piorado.

Tinha a cabeça em fogo, o corpo em febre alta... O médico é chamado, investiga, examina e conclui pela voz da medicina:
– Infelizmente, é o crupe (difteria), um monstro fulminante.
Vem a medicação. De instante em instante a doente piora, agita-se, delira e pergunta à mamãe:

– Quem chama e se retira? Ah! Mamãe, eu já sei quem expulsou Marcela, quero dar de meu bolo um pedacinho a ela.
Porque tenho, mamãe, tanta roupa guardada e Marcela anda assim esfarrapada? Por que Deus não quis dar a ela, o que me deu?

A mãezinha, chorando, nada respondeu. Mas, Beatriz prossegue:
– Eu quero ver Marcela!
Servidores da casa à procura de favela em favela não acharam sinal da pequena criatura. Finda a noite, ao clarão do amanhecer, depois de rápida agonia mal começava o novo dia, a querida Beatriz, dantes contente e forte, desfaleceu, por fim, ante os braços da morte.

Ao ver a filha morta, a senhora Garcia gritou a soluçar:

– Deus de imensa bondade, eu sei que o teu amor me ampara e me perdoa. Clamando a própria dor, em desespero enorme, vendo a filha na calma de quem dorme rogou-lhe a pobre mãe, a desfazer-se em pranto:

– Filha de minha vida, meu encanto não te afastes de mim que te amo tanto... Eu quero ser humilde, ensina-me a ser boa não me deixes no mal, volve no Mais Além, guia a mim, tua mãe, na prática do bem!

Mas a meiga Beatriz, agora sem mais dor e sem dizer mais nada que pudesse afastar o pesado amargor da mãezinha cansada estampou sobre a face um sorriso de amor.




“A beleza das pessoas está na capacidade de amar e encontrar no próximo a continuidade de seu ser”.

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